Comentário do dia por São Jerônimo
Presbítero, tradutor da Bíblia, Doutor da Igreja
Sobre Jonas II, 2, 5, 6, 11
Jonas, figura de Cristo
Se Jonas é figura do Senhor, por evocar, por meio da sua estadia de três dias e três noites nas entranhas do cetáceo, a Paixão do Salvador, a sua oração também deve ser uma expressão da oração do Senhor.
«Fui rejeitado diante dos teus olhos. Mas verei ainda o teu santo templo» (Jn 2,5). Quando estava contigo, gozando da tua luz, não dizia: «Fui rejeitado». Mas, quando me encontrei no fundo do mar, envolvido na carne de um homem, assumi sentimentos de homem e disse: «Fui rejeitado diante dos teus olhos». Disse-o enquanto homem; e o que vem a seguir disse-o como Deus, Eu que, sendo da tua condição, não Me vali da minha igualdade contigo (cf Fil 1,6), porque queria elevar a Ti o género humano: «Mas verei ainda o teu santo templo». Assim, diz o texto do evangelho: «Pai, manifesta a minha glória junto de Ti, aquela glória que Eu tinha junto de Ti antes de o mundo existir» (Jo 17,5); e o Pai responde: «Já a manifestei e voltarei a manifestá-la!» (Jo 12,28). O único e mesmo Senhor pede enquanto homem, promete enquanto Deus e está seguro da glória que foi sempre sua.
«As águas me cercaram até ao pescoço, o abismo envolveu-me» (Jn 2,6). Que o inferno não Me aprisione! Que não Me recuse a saída! Desci livremente, que livremente Me eleve. Voluntariamente vim como cativo para libertar os cativos, a fim de que se cumpra este verísculo: «Tu subiste às alturas e levaste contigo prisioneiros» (Sl 68,19; Ef 4,8). Com efeito, Ele conquistou para a vida aqueles que eram cativos da morte.
«Então, o Senhor ordenou ao peixe e este vomitou Jonas em terra firme» (Jn 2,11). Foi ordenado a este cetáceo, aos abismos e aos infernos, que restituíssem o Salvador a terra; assim, Aquele que tinha morrido para libertar os que estavam presos nos laços da morte pode levar uma multidão consigo para a vida.